quinta-feira, 26 de março de 2009

Aniversário

Novamente um aniversário. Faz anos, que não vejo graça em fazer um aniversário. Acordei, fui para a sala e liguei a TV e vi a loira falando das coisas boas da vida. –Meto-lhe a pica nesta coroa, disse Marcelo. Ele era um crioulo de quase dois metros, mais de cem quilos, seria muito se tivesse cinco dentes na boca, mas que se achava bonito. Passou mais da metade da vida puxando etapas em presídios e na Febem.

Com sua boca mole ele me falou que estava precisando de dinheiro. Me irritava isso, não o fato dele precisar de dinheiro, mas sim a boca mole de banguela que ele tinha. Puta que pariu, já roubou a porra de um banco e nunca conseguiu arrumar um troco para botar estes dentes na boca? – O Paulinho Vietnã está com uns ferros malocados na casa da Jacira. Vou pegar e vamos fazer um corre? – Porra Marcelo, hoje é meu aniversário, quero ficar de boa em casa e encher a cara.

Mas até que não seria ruim arrumar um troco. –E aí? Vamos fazer o que? Sair sem destino e pegar alguém no caixa eletrônico? –Porra nenhuma, vamos lá para o Alto de Pinheiros, tem sempre alguma coisa lá para aqueles lados, é só meter os peitos e ir para cima. –Tá chapado velho? Não tenho peito de aço, vou me enfiar naquelas ruas com segurança e o cacete? Tô fora!

- Que isso velho, tenho o esquema, conheço uma casa, tem um segurança do lado de fora, mas que é truta meu. Dentro mora um doutor e a mulher dele. Tem uma empregada pelo que eu sei e só. – Sei, e aí? –E aí irmão? Vamos lá hoje, esperamos o velho entrar, e “pum”, ta feito.

Fizemos. Fomos para a casa do casal e esperamos como o Marcelo havia falado. O segurança forjou que tinha sido rendido, entramos na casa e lá que a coisa toda começou a dar merda. O casal de velhos não tinha nem aparelho de DVD. Televisão velha, sem computador, sem Dólares, Euros ou mesmo Reais. Tinha porra nenhuma naquele museu.

Aí o Marcelo endoidou. Sem dinheiro sem porra nenhuma mano o cara ficou pilhado. Eu estava com o 38 e ele com a 12 de cano cerrado. Já estava agitando para sair daquela merda de casa por que ele ia foder tudo. Mas não deu tempo. O Marcelo virou e falou que tinha visto no Máquina Mortífera um cara grudar um ladrão na parede com tiro de 12.

Vamos mano, vambóra que daqui a pouco ta cheio de PM aqui. Vamos velho. – Calma Truta. Não quero perder a viagem não. Ô tia fica ali perto da parede que eu quero ver uma coisa. Na hora a velha começou a se mijar toda. O velho foi argumentar com o crioulo quando tomou uma coronhada de 12 na boca que fez ele cuspir meia dúzia de dentes. Pelo menos nisso o crioulo e o doutor eram iguais agora. Tinham o mesmo número de dentes na boca.

A velha ficou encostada na parede rezando quando o Marcelo deu o tiro. O corpo bateu na parede e veio para frente. Tinha sangue e tripa por todo lado. O velho gritava qualquer coisa, mas não dava para entender porra nenhuma por que ele mal conseguia falar. Abria a boca e cuspia sangue.

O Marcelo virou para mim, e rindo aquele riso desdentado dele falou. – Televisão é uma mentira mano. O corpo não gruda na parede porra nenhuma. Não sei por que resolvi participar daquela doidera. – Ô velho, a tiazinha tava muito perto mano, pega o marido dela e manda ele ficar um pouco mais longe da parede que ele gruda nela.

Nisso a empregada e o segurança já tinham sumido. Estavam era com medo com certeza. E nos vacilamos que não vimos os dois. E algum vizinho que deve ter escutado o esporro do tiro da 12 já tinha chamado a polícia.

O velho ficou a uns dois metros da parede, chorava que nem uma mulher pedia para morrer foi quando o Marcelo falou: - Fica tranqüilo ô tio, você vai morrer mesmo. E deu o tiro. – Caralho mano grudou! O filho da puta grudou na parede velho! Dizia o Marcelo numa alegria que parecia criança. Nisso eu só escutei um tiro e senti minha cara molhada dos negócios da cabeça o Marcelo. A polícia entrou e entrou atirando mano.

Mas tirando que eu vou puxar 15 anos o meu aniversário foi bacana. Toda semana a empregada dos velhos vem me visitar. Ela é bem ajeitada, e se eu continuar com bom comportamento daqui a um tempo vou ganhar direito a ter visita íntima.